A amamentação e ferro: o que precisas de saber?

A preocupação com os níveis de ferro nos primeiros meses de vida é comum entre pais e cuidadores. Mas será que todos os bebés precisam de suplementação? Neste artigo, vamos falar apenas de crianças saudáveis, nascidas a partir das 37 semanas de gestação, em países desenvolvidos, e sem qualquer condição de saúde identificada. Para estas, a resposta pode surpreender-te.

As reservas de ferro ao nascimento

Bebés saudáveis e de termo nascem com reservas de ferro suficientes para os primeiros seis meses de vida. Por isso, é tão importante que a gestação chegue às 37 semanas – esse tempo é essencial para que o bebé acumule essas reservas.

Curiosamente, estudos indicam que casos de anemia nos primeiros meses de vida podem estar mais associados ao corte precoce do cordão umbilical do que à alimentação da mãe ou do próprio bebé.

O leite humano e o ferro

O leite materno tem entre 0.2 e 0.4 mg de ferro por litro, e as necessidades diárias do bebé rondam os 0.27 mg. Embora pareça pouco, o leite materno tem um mecanismo especial: as suas proteínas transportam o ferro de forma altamente eficiente, tornando-o disponível apenas para o bebé – e não para possíveis microrganismos prejudiciais.

Outro ponto importante: a concentração de ferro no leite materno não depende da alimentação da mãe nem do teor de ferro no seu organismo. As células produtoras de leite absorvem o ferro diretamente e ligam-no a proteínas específicas – o que torna esta absorção ainda mais eficaz.

A suplementação a partir dos 4 meses

Algumas sociedades científicas internacionais recomendam suplementar com ferro a partir dos 4 meses, argumentando que as reservas naturais começam a diminuir e que o leite materno, por si só, não é suficiente.

Estudos apontam que a suplementação pode trazer benefícios no desenvolvimento neurológico, mas também mostram um possível atraso no crescimento físico (como ganho de peso ou perímetro cefálico). Estes resultados ainda são recentes, e exigem mais investigação antes de tirarmos conclusões definitivas.

Neste momento, não há consenso absoluto. A recomendação deve ser individualizada e discutida com os profissionais de saúde que acompanham o bebé.

Leite materno e a absorção de ferro após os 6 meses

Após os 6 meses, com a introdução de alimentos ricos em ferro, surge outro mito: o de que o leite materno pode interferir negativamente na absorção de ferro.

Na verdade, isso não é verdade. Ao contrário do leite de vaca (frequentemente associado a interferência na absorção de ferro em adultos), o leite humano continua a ser altamente biodisponível e seguro – mesmo durante a introdução alimentar.

Conclusão

A questão da suplementação de ferro em bebés saudáveis ainda está a ser debatida na comunidade científica. No entanto, a maioria das orientações atuais sugere que, para bebés saudáveis nascidos após as 37 semanas, amamentados em exclusivo, a suplementação de ferro não é necessária nos primeiros meses de vida.

O mais importante é garantir um acompanhamento regular com profissionais de saúde de confiança, que possam avaliar o bebé de forma individualizada.

Artigo por Dr Nuno Santos: https://www.instagram.com/nunohsantos.ibclc